A ex-coordenadora da COCEN Ana Carolina de Moura Delfim Maciel se tornou membro do International Research Laboratory (IRL) "Mundos em Transição", uma iniciativa conjunta do francês Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS) e da Universidade de São Paulo (USP). Historiadora e pesquisadora do Instituto de Artes (IA), Ana Carolina é a única representante da Unicamp no projeto, que se estrutura em cinco grandes eixos temáticos voltados às transformações contemporâneas em escala global — como mobilidades transnacionais, diversidade linguística, desigualdades socioeconômicas, perspectivas para as democracias e desafios ambientais. O IRL "Mundos em Transição" é vinculado a um International Research Center (IRC) estabelecido na USP em 2023 para facilitar a cooperação científica entre o CNRS e universidades brasileiras. Vozes deslocadas silenciadas entre acordos globais colapsados A trajetória de Ana Carolina na pesquisa acadêmica é marcada pelo estudo de narrativas audiovisuais contemporâneas que tratam do deslocamento humano e da invisibilização de populações marginalizadas. Sua entrada no projeto ocorreu por indicação do antropólogo francês Michel Agier, que identificou sinergias entre seu trabalho e os objetivos do IRL. Assim, ela foi convidada a integrar o Eixo 1 do laboratório, intitulado "Circulações, mobilidades e espaços transnacionais". Para Ana Carolina, os conflitos atuais revelam o colapso de acordos internacionais obsoletos e a urgência de repensar as formas de coexistência planetária. "Estamos diante de uma fadiga de uma forma de organização do mundo, de uma geopolítica que não funciona mais. As fronteiras matam, os tratados internacionais são desrespeitados. Conflitos cada vez mais sangrentos, como o genocídio palestino, revelam o esgotamento de uma lógica global que precisa ser profundamente repensada", afirma. Ela destaca que o projeto tem permitido a construção de uma agenda comum entre pesquisadores de áreas diversas. "Estamos num momento de concepção coletiva. O grande desafio é refletir o que nós entendemos como 'transição', encontrar denominadores comuns que conectem nossos olhares" A pesquisadora reforça a importância de romper com o silenciamento e dar voz às pessoas vitimadas pelo deslocamento forçado como uma forma de enfrentar as narrativas seletivas que dominam o debate público. "O protagonismo delas é essencial para romper com as versões dos fatos produzidas pelas grandes potências, que transformam os direitos humanos em direitos seletivos". Ana Carolina organizou duas edições do seminário internacional Refúgio Acadêmico — a primeira na Unicamp e a segunda na França — e articula a realização da terceira edição no continente africano, prevista para 2026. Cooperação internacional e perspectivas Sul-Sul O IRL "Mundos em Transição" se insere em uma longa tradição de colaboração científica entre Brasil e França. A estrutura binacional opera a partir da Maison du CNRS, no campus Butantã da USP, com o objetivo de impulsionar redes globais de pesquisa interdisciplinar. "Pretendemos desenvolver projetos Sul-Sul, sobretudo com a África, focados em circulação cultural, religiosa e política", diz a antropóloga Stefania Capone, uma das coordenadoras do Eixo 1, que reúne 15 pesquisadores do Brasil, França e Portugal. Eventos relacionados ao projeto estão sendo programados até o fim deste ano. "O primeiro, dia 13 de março, reuniu o diretor do Museu Afro Brasil, Hélio Menezes, e o intelectual franco-beninense Arnaud Zohou, do Museu Internacional do Vodun, no Benim, para discutir a descolonização dos museus. Outro evento, ligado a essa temática, será consagrado à questão das reparações e restituições", complementa Stefania.