Convergências 2025: edital financia projetos que conectam tecnologia, memória e igualdade racial
Lançado em 2023, o Edital Convergências tem como objetivo fomentar a cooperação entre diferentes Centros e Núcleos da COCEN
Pela primeira vez desde sua criação, o Edital Convergências - iniciativa da COCEN promovida pela Pró-Reitoria de Pesquisa (PRP) - selecionou dois projetos para financiamento, como parte das celebrações pelos
20 anos da Carreira de Pesquisador (Pq). A decisão reconhece o papel estratégico desses profissionais em pesquisas interdisciplinares de impacto social.
"A aprovação excepcional de dois projetos reconhece a qualidade e a relevância das propostas submetidas, bem como a contribuição dos pesquisadores para a produção de ciência de excelência na Unicamp", enfatiza a pró-reitora de pesquisa, Ana Maria Frattini.
Os projetos contemplados em 2025 foram:
Peles-em-Chip e Diversidade, uma colaboração entre o Centro de Engenharia Biomédica (CEB), o Centro de Componentes Semicondutores e Nanotecnologias (CCSNano) e o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB); e
Portal Digital da Memória Negra Campineira, desenvolvido em parceria pelo Centro de Memória da Unicamp (CMU), NEAB e o Núcleo de Estudos de População (NEPO).
Para a pró-reitora, os projetos ilustram o poder da interdisciplinaridade na construção de uma ciência mais diversa, inclusiva e conectada com a realidade social.
"No cenário contemporâneo, em que os desafios exigem respostas integradas, estimular projetos que conectam diferentes áreas do conhecimento é fundamental", contextualiza Frattini.
Lançado em 2023, o Edital Convergências fomenta a cooperação entre diferentes órgãos da Coordenadoria de Centros e Núcleos Interdisciplinares de Pesquisa (COCEN), incentivando novas abordagens interdisciplinares alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
A coordenadora da COCEN, Raluca Savu, destaca que os projetos aprovados têm em comum a participação do NEAB. "É o nosso núcleo mais novo, que já apresenta uma atuação transversal e crítica fundamental para o fortalecimento de agendas interdisciplinares com enfoque na igualdade racial".
Cada projeto recebe R$ 140 mil, que podem ser utilizados na aquisição de insumos e no custeio de uma bolsa de pós-doutorado em Gestão Executiva em Ciência e Tecnologia, com duração de 12 meses.
"Em especial neste ano em que o Brasil sedia a Conferência do Clima da ONU (COP30), é necessário reafirmarmos que justiça climática e igualdade racial caminham juntas. Os projetos selecionados evidenciam como a sustentabilidade deve incluir o enfrentamento às desigualdades e a valorização das memórias e saberes historicamente marginalizados", complementa Raluca.
Tecnologia contra desigualdades na saúde: peles-em-chip para diagnóstico do câncer de pele
O projeto
Peles-em-Chip e Diversidade investe no desenvolvimento de tecnologias inovadoras voltadas ao diagnóstico e tratamento do câncer de pele, com foco especial na população preta e parda.
"Construiremos em laboratório pele de alta complexidade para apresentar características funcionais, como composição celular e bioquímica, parecidas com a pele do corpo humano", explica a professora Carmen Veríssima Halder, coordenadora do NEAB.
O câncer de pele, embora menos frequente em pessoas negras e pardas, apresenta taxas de mortalidade mais altas nesses grupos devido ao diagnóstico tardio. Além disso, o melanoma acral, um subtipo agressivo da doença, afeta principalmente a população negra.
"A diversidade da pele também se reflete em diferenças químicas importantes, que devem ser consideradas no desenvolvimento de produtos de ação tópica", acrescenta Carmen.
A pele mimética será versátil e customizada, levando em conta não apenas a tonalidade, mas também diferenças no pH e outros componentes químicos.
"A parceria entre os centros será fundamental para vencer os desafios relacionados à alta complexidade técnica e entregar um produto com alta tecnologia", conclui a coordenadora do NEAB.
O projeto também contempla a criação de campanhas e outras ações voltadas à prevenção da doença.
Resgate histórico: um portal digital para dar visibilidade às histórias negras de Campinas
O projeto
Portal Digital da Memória Negra Campineira tem objetivo de reunir e disponibilizar, de forma aberta e acessível, documentos, registros orais, fotografias e outros materiais sobre a população negra em Campinas ao longo do século XX.
Maria Silvia Duarte Hadler, coordenadora do CMU, relata que a ideia surgiu a partir da constatação de uma lacuna crítica na área.
"Apesar da existência de muitos estudos, ainda temos grandes vazios. A população negra foi decisiva para a construção da cidade, mas sua história é pouco contada nos arquivos e instituições de memória".
A proposta integra ações como entrevistas com moradores negros, mapeamento de espaços de sociabilidade e levantamento de documentos pessoais, além do desenvolvimento de uma plataforma digital e uma exposição itinerante.
"Pretendemos trazer à tona experiências de vida, de trabalho e de resistência dessa população. E acreditamos que este projeto pode promover uma aproximação mais significativa entre a universidade e a sociedade", completa Maria Silvia.
A parceria entre o CMU e o NEAB se fortaleceu a partir da exposição Bailes Negros, que já percorreu espaços da Unicamp e da cidade.
Com a entrada do NEPO, o projeto foi enriquecido com análises demográficas e um olhar aprofundado sobre os impactos urbanos e sociais nas trajetórias negras campineiras.