A série de podcast "Crónicas contra colapso" apresenta em três episódios exemplos de pesquisas interdisciplinares desenvolvidas na Unicamp. O primeiro aborda como novas formas de comunicação de ciência têm surgido de projetos artísticos e com novas mídias, como os podcasts. O segundo fala sobre como é possível utilizar avanços computacionais associados a elementos artísticos para falar sobre o clima. E o terceiro apresenta uma reflexão sobre outras maneiras de lidar com o capitalismo. Pablo Ramos é professor na Universidade Nacional de Córdoba na Argentina e esteve na Unicamp através de um programa de bolsas para pesquisadores e artistas residentes pela Diretoria de Cultura. O pesquisador trabalhou em conjunto com pesquisadoras do Labjor e do NICS - Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora. A abordagem do trabalho de Ramos entende o som como uma forma de resistência, capaz de catalisar mudanças sociais e justiça ecológica nos territórios da América Latina. No primeiro episódio, as pesquisadoras do Labjor/Nudecri, Daniela Manica, Simone Pallone e Susana Dias conversam com Ramos sobre suas pesquisas e trabalhos em comunicação. Participaram também alunas que fazem parte do podcast Mundaréu, coordenado por Manica. Dias explica como suas pesquisas buscam gerar encontros entre conhecimentos produzidos em diferentes lugares, não apenas na universidade. O grupo de trabalho de Dias é composto por pesquisadores e artistas e as experiências questionam a homogeneização promovida pela lógica mercantilista da comunicação. Já Manica e Pallone, também produtora de podcast, explicam que a comunicação através do som carrega elementos próprios e que não são possíveis de colocar no texto. O áudio capta o tom da voz, que ajuda a transmitir a emoção, assim como choros ou silêncios, explica Manica. Para Pallone, trabalhar com podcasts estimula a procurar outros modos de falar, exercitando a habilidade de comunicação. No segundo episódio, Ramos entrevista Artemis Moroni e outros membros do projeto Gaia Senses. O projeto é desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer a partir de dados do Cepagri/Unicamp. No episódio, participantes contam como o Gaia Senses procura integrar elementos estéticos de forma a transformar dados em experiências mais palpáveis para as pessoas. Ao longo do episódio, é discutido como o clima tende a ser colocado apenas como um pano de fundo, quando na realidade tem se tornado um elemento cada dia mais importante no cotidiano das pessoas. Para dar maior visibilidade ao tema, os entrevistados defendem a valorização de diferentes formas de conhecimento, que interagem entre si para criar projetos de conexão sonora com o ambiente. Já o último episódio reproduz uma entrevista com Hidalgo Romero, mestre em multimeios pela Unicamp, que conheceu Ramos através de uma das mesas de intervenção propostas por Dias. Romero é produtor do documentário "Da nascente à foz" e conta como as heranças da colonização europeia podem ser percebidas até hoje na degradação dos ambientes, especialmente os aquáticos. Ele defende a importância de outras cosmovisões de mundo como formas de enfrentamento ao atual sistema de destruição ambiental. Para Ramos, o som é uma ferramenta potente de mobilização porque demanda a escuta. E o ato de escutar "nos situa, nos relaciona com outras existências, nos transforma e é, sem dúvida, um modo de intervir e participar de uma comunicação universal". Como exemplo disso, o pesquisador manteve sua produção em áudio em "portunhol", que definiu como "uma língua viva e criativa. Uma encruzilhada sonora. Uma interzona linguística".