Finalizado
Este projeto parte do pressuposto de que a comunicação não é um mero meio de reprodução e circulação do humano que já está aí, um instrumento de poder e progresso dos seus fatos e feitos, um regime que detém verdades a todo tempo impostas como palavras de ordem, mas um processo de efetiva experimentação do humano. Comunicar é criar constantemente novos possíveis para o humano. Daí a insuficiência de pensamentos e práticas que insistem na comunicação como mero transporte de informações de um ponto a outro, sem problematizar os processos de transporte e sem colocar em movimento uma verdadeira ?ecologia das emissões e disseminações? (PELBART, 2013, p. 327). E este é o problema que coloco com este projeto de pesquisa, o de que a divulgação científica das mudanças climáticas exige pensar em uma nova ecologia das emissões e disseminações, que esteja preocupada com os processos que tornam imagens, palavras e sons forças vitais, capazes de modelar a mais intensa potência de existir do humano diante das mudanças climáticas, capazes de propor e contagiar as pessoas à experimentação de novas relações entre o homem e a Terra. Este problema nasce da experiência com a Sub-rede de Divulgação Científica das Mudanças Climáticas, da Rede Clima, que desde 2013, sob minha coordenação, reúne pesquisadores de diversas instituições brasileiras e estrangeiras, tendo como principal ação a Revista ClimaCom: pesquisa, jornalismo e arte, e cujos resultados aponta como a divulgação científica faz parte dos problemas das mudanças climáticas que temos que enfrentar. Para experimentar este problema investiremos em criar novas matrizes perceptivas, buscando experimentar as dimensões humanas das mudanças climáticas em sua multiplicidade e proliferação. Mobilizaremos os estudos contemporâneos realizados por autores que se dedicam aos campos da filosofia da ciência, sociologia da ciência, filosofia, arte-filosofia, antropologia e antropologia da ciência e tecnologia, pesquisa-criação, arte-ciência e pesquisa-filosofia-arte para adensar os conceitos de ?ecologia política?, ?terrano? e ?mundo comum? com Bruno Latour (2004, 2013), ?etoecologia?, ?cosmopolítica? e ?instrusão de Gaia? de Isabelle Stengers (2013, 2014), ?humanizing? e ?mashwork? de Tim Ingold (2013, 2015 e 2016), ?ecologia menor? de Ana Godoy (2008), ?ecosofia e as três ecologias? de Félix Guattari (2001), ?geofilosofia? de Gilles Deleuze e Félix Guattari (2005), ?ecologia da experiência? de Erin Manning e Brian Massumi (2014 e 2015). Também estudaremos e conectaremos essas reflexões às práticas e processos de artistas ? pensamentos em ato ?, como Cildo Meirelles, Leila Dazinger, Claudia Andujar, Rosângela Rennó, Thiago Rocha Pitta, DionísioGonzález etc. Estes estudos acontecerão junto com oficinas que propõem a participação de integrantes da sub-rede de Divulgação e de outras sub-rede da Rede Clima, artistas convidados e abertas a públicos diversos, que permitam instaurar espaços-tempos de interação e composição distintos entre materiais, fotografias, vídeos, imagens, palavras e sons de divulgação das mudanças climáticas, pesquisas, artes e públicos, visando à produção de materiais que desformatem a comunicação das mudanças climáticas e que resultarão numa série de materiais. Para cada oficina escolhemos 8 formatos mais comuns da comunicação (o jornal, a fotografia, o cinema, o evento científico, o relatório (IPCC). Partiremos do pressuposto de que as chamadas mudanças climáticas não concernem apenas à natureza, antes são pensadas como fenômenos políticos, relacionados a uma crise conceitual e dos modos de existência atuais que precisam ser reinventados.