Finalizado
Justificativa: Em muitos países, as mulheres em idade reprodutiva foram especialmente afetadas pela epidemia de HIV, o que tem promovido pesquisas para entender melhor como a infecção pelo HIV influencia e modela a fecundidade e as decisões reprodutivas e sexuais das mulheres. No Brasil, poucos estudos focalizaram o impacto da epidemia de HIV sobre escolhas contraceptivas entre mulheres vivendo com HIV (WLHIV).Objetivo: Este estudo avalia o impacto que a infecção pelo HIV pode ter no acesso à esterilização feminina no Brasil, utilizando uma análise de sobrevivência.Métodos: Foi realizado um estudo quantitativo transversal (estudo GENIH) entre fevereiro de 2013 e abril de 2014 na cidade de São Paulo, comparando duas amostras probabilísticas de 975 WLHIV e 1.003 mulheres não vivendo com HIV (WNLHIV) de 18 a 49 anos. Os dados foram coletados retrospectivamente de forma a reconstruir as trajetórias reprodutivas das mulheres. Em função dos objetivos deste estudo, a análise foi restrita a mulheres com paridade um ou mais e, no caso de WLHIV, às esterilizadas após o diagnóstico de HIV. A análise final da amostra incluiu 683 WNLHIV e 690 WLHIV. Uma série de modelos Cox foram ajustados para estimar a probabilidade de ser esterilizada após o diagnóstico de HIV, em comparação com o WNLHIV. Os modelos foram ajustados para escolaridade, raça / cor e estratificados por paridade no último parto (1-2, 3+). As razões de risco foram calculadas para a esterilização feminina e separadamente para os procedimentos de intervalo e pós-parto (realizados em conjunto com cesariana ou imediatamente após o parto vaginal). Adicionalmente, foi também analisada a demanda não satisfeita de esterilização feminina.Resultados: Não há diferença estatística no risco de esterilização entre WLHIV e WNLHIV nos dois grupos de paridade: HR = 0,88 (0,54 - 1,43) e 0,94 (0,69 - 1,29), respectivamente, em mulheres com 1-2 filhos e com três e mais. No entanto, observam-se diferenças significativas quanto ao impacto da infecção por HIV na esterilização, dependendo do momento e do tipo de procedimento. A probabilidade de obter uma esterilização de intervalo é significativamente menor para WLHIV em comparação com aquelas que não vivem com HIV. O inverso ocorre em relação à esterilização pós-parto. Embora a esterilização seja principalmente realizada em conjunto com cesariana no Brasil, é evidente que as cesarianas não são o único fator que aumenta o risco de esterilização entre o WLHIV.Conclusão: Os resultados indicam barreiras no acesso a serviços que oferecem esterilização de intervalo para WLHIV e uma certa "facilitação" na obtenção do procedimento em conjunto com cesariana. Mudanças institucionais a fim de facilitar o acesso à esterilização de intervalo e o enfrentamento da discussão sensível da elegibilidade do WLHIV para a esterilização pós-parto são questões crucias. É igualmente urgente ampliar o acesso aos métodos contraceptivos para o WLHIV e promover estratégias de métodos de dupla proteção. Além disso, uma vez que o uso do preservativo pode diminuir no futuro no contexto do uso da terapia antirretroviral como prevenção, a promoção de métodos expandirá as opções relativas aos direitos reprodutivos das mulheres vivendo com HIV. (AU)