Quarta-feira, 09 de agosto de 2023 - Por Divulgação Unicamp
Escavações arqueológicas buscam vestígios da repressão no DOI-Codi
As escavações são o resultado da atuação do Grupo de Trabalho Memorial DOI-Codi

Tiveram início nesta quarta-feira (2), na capital paulista, os trabalhos de escavações arqueológicas no antigo Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), órgão ligado ao Exército, onde ocorreram torturas e mortes de opositores da ditadura militar (1964-1985). A investigação será realizada por pesquisadores da Unicamp e das Universidades Federais de São Paulo (Unifesp) e de Minas Gerais (UFMG). Os trabalhos irão até 14 de agosto e contarão também com visitas guiadas ao espaço, no bairro da Vila Mariana, zona sul de São Paulo, mesas de discussão sobre a memória do período e oficinas de formação de estudantes e professores.
As escavações são o resultado da atuação do Grupo de Trabalho Memorial DOI-Codi, que envolve organizações de defesa dos direitos humanos, o Ministério Público do Estado de São Paulo e a Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico (UPPH) do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat). Elas têm o objetivo de aplicar as pesquisas arqueológica e histórica na identificação de vestígios materiais e na compreensão da memória relacionada ao espaço e ao período.
A professora da Unicamp e participante do projeto Aline Carvalho: "manter viva a memória do trauma da ditadura militar para que isso nunca se repita"
"Esse trabalho lança as bases para pensarmos, futuramente, como poderia ser um memorial desse período e como essa história pode ser contada", explica Deborah Neves, historiadora da UPPH do Condephaat e coordenadora do projeto. Os pesquisadores buscam identificar indícios da passagem das vítimas da repressão pelo local, como inscrições nas paredes, objetos pessoais e registros em papel.
"As pessoas resistiram bravamente à repressão. Essa resistência tem materialidade, não só nos corpos, mas nos escritos e objetos que estamos buscando", destaca Aline Carvalho, professora da Unicamp e pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais (Nepam) que atua no projeto.
Estima-se que mais de 7 mil pessoas tenham sido torturadas no local
Conhecer para não repetir
Criado em 1969 por uma parceria entre o Exército e a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, o DOI-Codi foi um espaço marcado pela violação dos direitos humanos. Estima-se que mais de 7 mil pessoas tenham sido torturadas no local. O complexo de cinco prédios foi tombado pelo Condephaat em 2014, a fim de conservar as instalações e possibilitar que pesquisas históricas gerem conhecimentos sobre a repressão política da época.
"O DOI-Codi foi o principal órgão de repressão no Brasil, inclusive inspirou outros órgãos do tipo na América do Sul. Precisamos conhecê-lo de fato para compreender sua importância para além do que já sabemos", argumenta Deborah.
A coordenadora do projeto, Déborah Neves (à esquerda): identificar indícios da passagem das vítimas da repressão pelo local
Além das escavações, entrevistas e coletas de depoimentos foram realizadas para recuperar a história de quem passou pelo local e direcionar as investigações forenses. "A arqueologia é fundamental, mas não é feita com base apenas na intuição. Nossa ideia é manter viva a memória do trauma da ditadura militar para que isso nunca se repita. As ciências contribuem com um arcabouço de métodos de análise e nos ajudam a produzir informações para compreendermos esse passado e construirmos percepções para uma sociedade democrática", pontua Aline.
Após as escavações, serão realizadas exposições com o acervo coletado em diversos espaços, incluindo a Unicamp. Até o dia 14, também é possível conhecer o espaço em visitas guiadas pelos pesquisadores. Elas são abertas ao público geral das 16h às 17h e não é necessário fazer agendamento. O antigo DOI-Codi fica na Rua Tutóia, 921, na Vila Mariana, em São Paulo.
Matéria originalmente publicada no site da Unicamp



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