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Terça-feira, 29 de agosto de 2023 - Por Adriana Vilar de Menezes - Portal da Unicamp
Lideranças femininas do país participam de evento sobre direitos humanos
Fórum "Direitos Humanos na Prática: Mulheres Construindo Justiça Social" contou com participação do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP)
Imagem: O Grupo de Dança Indígena Amoras, formado por estudantes do coletivo Acadêmicas Indígenas Uirapuru da Unicamp, apresentou uma coreografia de carimbó. Foto: Felipe Bezerra.
O Grupo de Dança Indígena Amoras, formado por estudantes do coletivo Acadêmicas Indígenas Uirapuru da Unicamp, apresentou uma coreografia de carimbó. Foto: Felipe Bezerra.
“Esse é o fórum da escuta.” Assim definiu o evento a coordenadora da Secretaria de Vivência nos Campi (SVC) e professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), Susana Durão, à frente da organização do Fórum Especial 20 Anos - Direitos Humanos na Prática: Mulheres Construindo Justiça Social, realizado na sexta-feira (25/08), no Centro de Convenções da Unicamp. Lideranças femininas de todo o país foram convidadas a falar sobre suas vivências diárias de luta contra a violência. “Elas são as especialistas, por isso propomos que elas falem sobre as políticas de si, e nós escutamos”, disse Durão. A proposta do Fórum Especial, que fez parte da celebração dos 20 anos da criação dos Fóruns Permanentes, foi debater sobre os direitos humanos, a partir da questão da violência, para produzir reflexões e ações sobre o papel da Universidade na sociedade.
A diretora executiva de Direitos Humanos da Unicamp, Silvia Santiago (à esquerda) e a coordenadora da Secretaria de Vivência nos Campi, Susana Durão: mulheres construindo justiça social.
Cinco mulheres engajadas em causas sociais que tiveram suas vidas marcadas por experiências responsáveis por levá-las ao ativismo foram convidadas a compartilhar suas histórias: as vereadoras Marta Rodrigues Sousa de Brito Costa (Salvador-BA) e Monica Cunha (Rio de Janeiro-RJ), a deputada estadual Alzira Nogueira (Amapá) e as líderes indígenas Valdelice Veron (Juti-MS) e Josi Ticuna (Belém-PA). Na abertura do evento, o Grupo de Dança Indígena Amoras, formado por estudantes do coletivo Acadêmicas Indígenas Uirapuru da Unicamp, apresentou uma coreografia de carimbó, dança típica do Pará. A mesa de abertura teve a presença de Durão, da diretora executiva de Direitos Humanos, Silvia Maria Santiago, do pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho, e do reitor da Unicamp, Antonio José de Almeida Meirelles. O reitor destacou a importância da força da mulher capaz de transformar a sociedade. “O sofrimento pessoal aqui alimenta uma luta coletiva”, disse o reitor, que também falou sobre a importância do exercício de escuta. “Estamos nos despojando de uma arrogância acadêmica, que não detém o único saber.” Meirelles mencionou a história pessoal de sua mãe. “Foi a força dessa mulher que me trouxe aqui. Essa é a nossa conexão”, disse o reitor.
O pró-reitor de Extensão e Cultura, Fernando Coelho (à esquerda) e o reitor Antonio Meirelles (à direita): importância da escuta
Coelho também reforçou a importância da escuta. “A primeira etapa do processo de mudança é a escuta.” O pró-reitor disse ainda que “nós não podemos conviver com a normalização da violência”. Tema esse que Santiago afirmou ser uma pauta atual de reflexão. “Temos refletido sobre o fato de que a violência reverbera, não fica só naquele caso único. Ela acaba justificando ou incentivando outras violências”, disse a diretora executiva, que identifica, nesse contexto, como violência de Estado a ausência de políticas públicas. “Precisamos ter uma ação cidadã, que é o que essas mulheres trazem aqui, para interromper o ciclo de violência e construir uma sociedade diferente.” No período da manhã, as vereadoras da Bahia e do Rio de Janeiro compuseram a mesa “Políticas Públicas a favor do(s) Direito(s)”, mediada por Durão. Exercendo seu terceiro mandato, Costa apresentou seu histórico de atuação na Câmara Municipal de Salvador, a segunda mais antiga do Brasil (a primeira é a de São Vicente-SP). “Quando falamos de segurança, não é só uma questão de polícia. Ela existe em outros âmbitos também, como no do racismo estrutural e religioso”, disse a vereadora, que lembrou o assassinato da líder quilombola baiana Mãe Bernadete, há oito dias (dia 17). Entre os projetos de lei propostos por Costa está o da Lei Bruno e Yan, que cria o selo antirracista para produtos. O nome faz referência a Bruno Barros e Yan Barros, tio e sobrinho, que foram encontrados mortos no porta-malas de um carro com sinais de tortura após furtarem carne em um supermercado na Bahia. “A gente tem que fazer reparação pela violência, e é com política pública e reconhecimento que a gente repara”, defende Costa, presidente da Comissão de Direitos Humanos e Defesa da Democracia Makota Valdina e especialista em Políticas Públicas pela Unicamp.
O Grupo de Dança Indígena Amoras, formado por estudantes do coletivo Acadêmicas Indígenas Uirapuru da Unicamp, apresentou uma coreografia de carimbó, dança típica do Pará
Cunha, por sua vez, defendeu a interligação de outros saberes com os saberes das universidades. Incentivada por Marielle Franco (1979-2018, vereadora carioca assassinada) a ingressar na política, a hoje vereadora perdeu um filho em 2006, assassinado pela polícia. “Marielle me disse: ‘Chegou a sua vez, você tem base suficiente para estar neste lugar, porque a caneta, que sempre esteve nas mãos de quem tirava nossos direitos, tem que estar em nossas mãos’.” Cunha se tornou defensora dos direitos humanos e resolveu estudar para entender melhor o papel da mulher negra na sociedade. “O que nos acomete é o racismo estrutural neste país. Faltam políticas públicas para a população pobre preta favelada. Instituiu-se neste país que nós não temos direitos.” A Câmara Municipal do Rio de Janeiro, diz Cunha, tem três vereadores negros, em um total de 51. Os números demonstram a necessidade de muita luta a ser ainda realizada. Ela preside a Comissão Especial de Combate ao Racismo, a primeira do tipo no Brasil, criada em abril de 2023 pelo órgão carioca. Há um apelo para que essa comissão se torne permanente. No período da tarde, Josiane Otaviano Guilherme, mais conhecida como Josi Ticuna, falou na mesa intitulada “Ações e Projetos pelo Fim das Violências”, contando sua experiência com os conflitos na região da fronteira em Benjamin Constant (AM). Graduada em Antropologia pelo Instituto de Natureza e Cultura da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e mestranda no Programa de Pós-Graduação em Diversidade Sociocultural na Amazônia pelo Museu Emílio Goeldi, em Belém (PA), Josi Ticuna coordena o Projeto Agrovida-Naãne Arü Mã'ü-Terra e Vida.
As vereadoras Marta Rodrigues Sousa de Brito Costa, de Salvador (à esquerda) e Monica Cunha, do Rio de Janeiro (à direita): políticas públicas a favor do direito
Também compuseram a mesa do período da tarde a amapaense Nogueira, mestra em Sociologia, servidora do Ministério Público e ativista da luta pelos direitos das mulheres negras, e Veron, doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB), recentemente premiada em Washington (EUA) com o Prêmio Liderança Global da Vital Voices Global Partnership. Em 2003, seu pai, o cacique Marcos Veron, foi assassinado na luta pela posse de terras indígenas. O fórum teve sua organização encabeçada pela Secretaria de Vivência nos Campi (SVC) e pelo Conselho de Vivência Universitário (CVU), com apoio da Diretoria Executiva de Direitos Humanos (DeDH) e participação do IFCH e do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (Nepp). Matéria originalmente publicada no Portal da Unicamp
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