Sucessivos recordes de altas temperaturas têm sido registrados na onda de calor que atinge diversas regiões do país. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) estendeu até sexta-feira (17) o alerta de "grande perigo" para 15 estados - incluindo São Paulo - e o Distrito Federal, destacando potenciais riscos para a saúde. O Ministério da Saúde disponibilizou uma página especial com recomendações e informou que os riscos podem impactar toda a população, mas especialmente idosos, crianças, diabéticos, gestantes, população em situação de rua e pessoas com problemas renais, cardíacos, respiratórios ou de circulação. Entre negacionismos e visões apocalípticas, o fenômeno tem gerado ampla repercussão midiática e debates nas redes sociais sobre as relações com as mudanças climáticas. Afinal, do ponto de vista científico, é possível estabelecer com razoabilidade esse vínculo? O meteorologista Bruno Bainy, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Unicamp (Cepagri/COCEN), explica que existe um ramo das ciências atmosféricas que busca responder justamente esse tipo de pergunta. É a chamada ciência da atribuição climática, que estuda o impacto da atividade humana na probabilidade de ocorrência de fenômenos específicos. Os pesquisadores utilizam recursos de simulação computacional para investigar se determinados eventos ocorreriam ou não - e, se ocorreriam, em que magnitude - sem a influência antropogênica no clima. "Os estudos costumam apontar que as ondas de calor podem ter uma relação bastante íntima com as mudanças climáticas. Em geral, as pesquisas mais conclusivas quanto a essas atribuições são relativas às ondas de calor. Então, é uma das principais hipóteses que a gente tem para explicar esse calor extremo. Mas claro que temos outros fatores em jogo, como o El Niño", esclarece Bainy. O meteorologista explica ainda que o momento atual coincide com uma fase da chamada oscilação de Madden-Jullian. "É um mecanismo de variabilidade climática que dura algumas semanas. E há ciclos. Algumas fases tendem a deixar a parte leste do país mais seca, como é o caso agora. E outras fases tendem a promover chuvas mais volumosas, como é esperado a partir do final de semana". Previsões do Cepagri indicam que a onda de calor na Região Metropolitana de Campinas deve continuar até sábado (18). A partir de domingo (19), a expectativa é que as temperaturas comecem a cair. El Niño Ana Ávila, também meteorologista do Cepagri, diz que o El Niño - fenômeno sazonal que promove um aquecimento atípico nas águas na região do Oceano Pacífico equatorial - ainda atingirá seu pico deste ano em dezembro. "A temperatura das águas vai ficar cerca de dois graus e meio acima do esperado. E os modelos indicam que até junho do ano que vem a gente deve ter o El Niño em curso". O El Niño favorece ondas de calor na região porque as frentes frias ficam bloqueadas no sul do país e não conseguem avançar, diz a meteorologista. "Outra questão também é que o aquecimento das águas no Oceano Pacífico ajuda a aquecer a atmosfera em termos globais". Uma onda de calor é definida pelo INMET como um cenário em que há temperaturas de pelo menos 5ºC acima da média para a região e período, com persistência de no mínimo três dias consecutivos.

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