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Terça-feira, 30 de maio de 2023 - Por Tote Nunes | Portal da Unicamp
Centro de Memória comemora reconhecimento mundial da Unesco
O conjunto documental "Feminismo, ciência e política - o legado de Bertha Lutz, 1881-1985" foi certificado no Registro Internacional do programa Memória do Mundo da Unesco.
Imagem: A coordenadora associada e pesquisadora do CMU, Maria Silvia Duarte Hadler: visibilidade da atuação feminina (Foto: Antonio Scarpinetti)
A coordenadora associada e pesquisadora do CMU, Maria Silvia Duarte Hadler: visibilidade da atuação feminina (Foto: Antonio Scarpinetti)
Considerado um dos mais importantes centros de documentação e pesquisa do estado de São Paulo, o Centro de Memória da Unicamp (CMU) inaugura nova sede no dia 7 de junho e comemora um reconhecimento: o conjunto documental “Feminismo, ciência e política - o legado de Bertha Lutz, 1881-1985” acaba de ser certificado no Registro Internacional do programa Memória do Mundo da Unesco. Trata-se da agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Educação, Ciência e Cultura. Este mesmo conjunto já havia recebido a certificação do comitê brasileiro ligado ao programa Memória do Mundo da Unesco em 2018. “É um reconhecimento com a chancela da Unesco, por conta da importância da documentação e da personagem”, explica a coordenadora associada e pesquisadora do CMU Maria Silvia Duarte Hadler. “Uma cientista brasileira que teve uma forte atuação política, que militava pelo voto feminino e cuja atuação foi muito importante para essa causa no Brasil”, diz a professora. “O conjunto documental traz à tona, também, um tema bastante contemporâneo, que é a atuação da mulher na sociedade e a visibilidade da atuação feminina. Traz, ainda, um reconhecimento de que as instituições e o próprio país têm condições de abrigar momentos de relevância da memória da humanidade”, resume. Segundo ela, a nova certificação foi anunciada no dia 18 de maio deste ano. Fundação Progresso Feminino Filha do médico e cientista brasileiro Adolfo Lutz, Bertha foi uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. Criada em 1922, a entidade lutou pela igualdade de direitos entre homens e mulheres, pelo acesso das mulheres à educação e ao mercado de trabalho e contribuiu para a conquista do voto feminino, garantido na Constituição de 1934. Formada em Ciências na Sorbonne, Bertha Lutz também atuou como pesquisadora no Museu Nacional - RJ, em um período em que as mulheres eram excluídas do campo científico. Ela assumiu a cadeira de deputada em 1936 e foi uma das representantes do Brasil na Conferência de São Francisco de 1945, que resultou na Carta da ONU.
Filha do médico e cientista brasileiro Adolfo Lutz, Bertha foi uma das fundadoras da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino (Foto: Wikipedia)
O acervo documental “Feminismo, ciência e política....” é composto por coleções de quatro instituições que apresentaram à Unesco uma candidatura conjunta: o Arquivo Histórico do Itamaraty, o Arquivo Nacional, o Centro de Documentação e Informação da Câmara dos Deputados e o CMU. A parte da coleção custodiada pela Unicamp contempla a troca de correspondências de Bertha com Adolpho Affonso da Silva Gordo, senador de muita influência no cenário político na década de 1920. Acesse o material disponível no CMU. O leitor deve acionar as abas “Publicações” e “Coleção Acesso e Difusão”. Segundo a professora Maria Silvia, esse programa da Unesco existe desde 1992 e remonta a uma discussão aberta no período imediatamente posterior à 2ª Guerra Mundial, quando tiveram início as reflexões em torno dos impactos do conflito mundial na preservação de obras de arte e edifícios considerados patrimônio histórico. “Como consequência daquela discussão, em 1992 foi criado um programa pensando particularmente no acervo documental e coleções de bibliotecas, que são patrimônios documentais de diferentes povos e considerados patrimônio da humanidade”, explica a professora. “Além da preservação da memória da humanidade, o comitê da Unesco se preocupou também com a acessibilidade do material”, diz ela.
Nova infraestrutura Depois de 38 anos instalado no Ciclo Básico I, o Centro de Memória da Unicamp passa a ocupar, a partir do dia 7 de junho, uma área de mil m² no terceiro piso da Biblioteca Central Cesar Lattes. O processo de mudança — que incluiu embalagem do material, catalogação, transporte e adequação do novo espaço — foi iniciado em dezembro de 2021 e finalizado em março do ano passado. Desde então, o espaço passou por ajustes de infraestrutura e de organização interna que incluíram a instalação mais recente da rede de internet. O Centro abriga 120 conjuntos documentais dos mais variados gêneros — audiovisual, material iconográfico, sonoro, textos, móveis e objetos. Possui uma biblioteca especializada em Campinas, responsável pela gestão de livros e obras raras e de um grande volume de periódicos, semanários, jornais diários e folhetos de valor histórico. Esse material permite ao pesquisador investigar as transformações ocorridas em Campinas e de parte do interior paulista, desde os ciclos da cana-de-açúcar e do café até a industrialização. O volume e a variedade do material permitem pesquisas multidisciplinares, que envolvem aspectos econômicos, sociais, culturais, urbanos e políticos da cidade e da região. O CMU guarda, por exemplo, vasto estudo analítico sobre o movimento literário em Campinas até 1920 e fotografias produzidas entre 1870 e 1995 — em que aparecem o movimento das ruas, antigas edificações, demolições, registros sobre transporte público e um grande número de flagrantes do cotidiano da cidade. Também há coleções sobre plantas e projetos que mostram a instalação do sistema de saneamento básico em Campinas, processos judiciais, eventos cívicos, esportivos, religiosos e vasto material sobre o período da escravidão. A professora Maria Silvia explica que, além de pesquisadores, o Centro recebe consultas regulares de pessoas interessadas em investigar vínculos familiares, por exemplo. “Mantemos o conjunto documental da Santa Casa, que são livros enormes, com os registros que vão desde o final do século 19 até mais ou menos os anos 1940. Nesses livros, estão registros de internações e nascimentos, por exemplo”, diz ela. Outro conjunto bastante consultado, segundo ela, é aquele ligado a processos judiciais. “São mais ou menos 50 mil processos que tramitaram no então Tribunal de Justiça da Comarca de Campinas, que vão do final do século 18 até metade do século 20. E, neste caso, são consultas a inventários, testamentos e a todo tipo de peças cartoriais”, conta. De acordo com a professora, trata-se de material que pode subsidiar pesquisas sobre antigas fazendas da região e sobre as famílias de cafeicultores e fornecer farto material para os que pesquisam a escravidão. “Os escravizados eram arrolados nos testamentos”, explica ela. “Com base nisso, pode-se pesquisar desde questões referentes às condições de trabalho nas fazendas, até uma investigação sobre famílias de escravizados”, afirma.
Trabalhadores da Fábrica de Cerveja e Gelo Columbia, entre 1920 e 1929, em Campinas, SP - Conjunto Aristides Pedro da Silva (V8) (Foto: Reprodução Acervo CMU)
Seminários de Pesquisa CMU A professora Maria Silvia lembra, no entanto, que o CMU não se propõe apenas a custodiar material e a permitir a produção de pesquisas. “Também somos um Centro que se preocupa com a divulgação”, diz ela. Nesse sentido, o Centro realiza edições mensais de um evento chamado “Seminários de Pesquisa CMU”. Neste mês, a convidada é a professora Joana Maria Pedro (UFSC), com a palestra "Memórias dos feminismos no Cone Sul (1976-1985)". No início de dezembro, lembra a professora, acontece a 11ª edição do seminário nacional do CMU, em que serão realizadas mesas redondas e salas de debate em torno do tema central - “Memória e Patrimônio Acadêmico Científico”. -- Matéria originalmente publicada no Portal da Unicamp
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