Finalizado
A internet, sobretudo as redes sociais, se configura como importante espaço de divulgação científica seja por cientistas (PETERS et al., 2014), ou não cientistas. As novas maneiras de relação com o conhecimento através de compartilhamentos, likes e comentários aproximam a sociedade de um dizer sobre a ciência e contribuem para difundir um dizer sobre esse conhecimento. Em contrapartida, as redes sociais se inscrevem como canais alternativos aos institucionais, para onde o sujeito - que não se sente mais representado pelas instituições tradicionais - migra e se organiza em busca de auto-representação, legitimidade e conquista de direitos, de forma que ao se identificar com outros, estabelece laços e insere-se em grupos específicos (CASTELLS, 2017). Essa forma contemporânea de mobilização dos sujeitos pelo digital (DIAS, 2016, 2018) possibilita que boatos e desinformações se espalhem rapidamente e reverberem para além do online, como é o caso do movimento antivacina. Grupos contrários ou que temem a imunização têm ganhado notoriedade no Facebook com o compartilhamento de notícias, dados e artigos ditos “científicos” que semeiam a dúvida quanto à segurança, necessidade e eficiência da vacina. Um cenário potencialmente de risco, com consequências reais para a saúde pública quando se observa o índice de cobertura vacinal regredir no Brasil (PNI, 2018) e no mundo (WHO, 2017). Nota-se, no processo de produção discursiva, a apropriação do discurso científico como instrumento para produzir efeitos de real e credibilidade às informações que circulam no grupo, ainda que elas se constituam por fatos alternativos com “efeito de ciência”. Nesse contexto, este trabalho adota a Análise de Discurso da Escola Francesa com o objetivo de compreender os efeitos de sentidos que os discursos antivacinas e os discursos da divulgação científica sobre o assunto produzem no sujeito no ambiente digital do Facebook. Propõe-se analisar notícias e comentários em uma página de divulgação científica e outra com característica e funcionamento antivacina. Os comentários se configuram como complemento essencial dessa análise, pois são pensados como gestos de interpretação, formulações nas quais o sujeito se inscreve na produção e constituição dos sentidos produzindo novos efeitos de sentidos nele e no outro com o qual interage. Possuem, portanto, um funcionamento semelhante ao das notas de rodapé (ORLANDI, 2004), um lugar onde pode se observar o real do discurso, o equívoco, a dispersão e a polissemia. A partir da compreensão proposta, pretende-se abrir caminho para reflexões sobre a abordagem da divulgação científica sobre vacinação na internet.